ESPE
TÁCULO
CAP5994
TEMPO
HUMANIDADE
SITUAÇÃO
DESVIOS
ERRO
POESIA
DIGITAL
VIGÍLIA
SONHO
FUTURO
EM RUÍNA
PRESENTE
EM CRISE
TRANS
VERSAIS
TRAVESSIAS
LABIRINTO
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CULTURA
NATUREZA
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CONCRETO
MUNDOS
ANTROPOCENO
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REPRESENTAÇÃO
SONHO
NATUREZA
MUNDOS
EXTINÇÃO
MENSAGENS
VERSOS
IMAGÉTICO
GLITCH
ART
COLETIVO
DIREITOS
CONTRA
COLONIAL
REBELDIA
RECUSA
____OS QUATRO ENSAIOS
O curso foi composto por quatro eixos, cada um deles formado por um ensaio (aula), um filme e um texto (articulados em um seminário em grupo) e um manifesto (tema para um trabalho em grupo).
_PERIÓDICOS DO DESVIO
(Súmula do ensaio) Na crítica do espetáculo, a mídia e a indústria cultural são alvos preferenciais. Entre as plataformas da estratégia bélica situacionista, constituindo um sofisticado sistema de comunicação de seu projeto político, estão o cinema, o urbanismo (explorado em derivas urbanas), a revista Internacional Situacionista (1958-61) e outras publicações, entre os quais cartazes e panfletos difundidos na malha urbana.
Provocar o détournement (desvio) desses meios – de informação e cultura de massa – era insurgir contra a passividade do espectador, provocando a recontextualização de uma obra de arte ou literatura existente com o intuito de alterar radicalmente seu significado para um sentido revolucionário, ou provocando a torção de expressões do sistema capitalista contra si mesmo.
Guy Debord atribuía ao cinema “um papel pedagógico na tarefa de difusão” dos conceitos situacionistas. Tanto quanto o cinema, sua atividade editorial foi central na preparação e difusão dos planos de situações, na organização do trabalho coletivo e na integração entre as linguagens praticadas.
Ao desvio praticado pelo periódico da Internacional Situacionista, relacionamos ainda o cinema discrepante do letrista Isidore Isou (e sua influencia sobre o cinema de Debord), o cinema ensaístico de Jean-Luc Godard e a revista FILE megazine (1972-), do coletivo General Idea, que elabora uma torção da revista LIFE, um protótipo editorial da sociedade do espetáculo.
Como conteúdos relacionados ao primeiro ensaio, sugerimos a discussão dos capítulos 18 e 19 do livro A Comunidade que Vem, de Giorgio Agamben, do filme Letter to Jane, de Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin, e do Manifesto Situacionista.
_PERIÓDICO DE COMUNIDADE E INTERCOMUNIDADE
(Súmula do ensaio) Qual o papel do artista nas lutas revolucionárias? A pergunta é “desviada” do filme Letter to Jane, de Godard e Gorin, para as ilustrações de Emory Douglas, Ministro da Cultura do Black Panther Party, que fixava sua arte revolucionária diariamente nas páginas do jornal do partido. “A arte revolucionária promove um confronto físico com os tiranos e também ilumina o povo para continuar seu ataque vigoroso pela educação das massas através da participação e observação”. (Emory Douglas, Position Paper nº 1 on Revolutionary Art, 1970).
Douglas concebeu para o Black Panther Community News Service uma estratégia de comunicação de massa alinhada à tese do filósofo Herbert Marcuse (Essay on Liberation, 1969) de que a mudança radical da sociedade não viria da simples conscientização das classes trabalhadoras, oprimidas e invisibilizadas a respeito da alienação em seu trabalho cotidiano (como o marxismo clássico teorizou). Mas da abrangência de um movimento de calibre político e estético.
O jornal semanal do Partido dos Panteras Negras surge em 1967, como um veículo de comunidade, com a função de colocar pressão nas autoridades políticas para atender as necessidades sociais das populações desatendidas e com enfoque inicialmente em Oakland, cidade natal dos fundadores do partido, Bobby Seale e Huey P. Newton. Mas o jornal rapidamente irrompe sua dimensão local, ganha terreno nacional e internacional e alcança uma amplitude de causas, em relação a outras formas de opressão e exploração. O periódico se torna então The Black Panther Intercommunal News Service, plataforma da teoria politica do “Intercommunalism”, de Huey Newton, que busca traçar um campo comum entre lutas em reação ao imperialismo e o controle de corporações e instituições financeiras globais.
A pergunta de Godard se aplica também ao jornal Memória de La Postguerra (1993-94), criado por Tania Bruguera numa estratégia de desvio situacionista do jornal Granma, do Partido Comunista Cubano; e ao Chto Delat Newspaper (2003-em processo), produzido pelo coletivo russo interdisciplinar, que adota como statement texto de Vladimir Lenin sobre o papel do jornal na organização coletiva de um partido.
Como conteúdos relacionados ao segundo ensaio, sugerimos a discussão do capítulo 4 de Crítica da Razão Negra, de Achille Mbembe, do filme Panteras Negras, de Agnès Varda, e do Programa de Dez Pontos, do Black Panther Party.
_PERIÓDICO ESPACIALIZADO
(Súmula do ensaio) A epígrafe do terceiro ensaio é composta pelos minutos iniciais do filme October (1927), de Sergei Eisenstein, que reencena a revolução de outubro de 1917 e começa com a derrubada da estátua do czar Alexander III.
O impacto desse gesto de destruição de monumentos militares ressoa ao longo de todo o século 20, até as revoltas de junho de 2020, quando estátuas de personagens associados à escravidão e ao colonialismo foram decapitadas nas manifestações do movimento Black Lives Matter. Antes desses atos iconoclastas, havia a decapitação e o sacrifício como atos simbólicos de ruptura com a lógica do poder fascista, praticado pela Acéphale de Bataille, que se produzia como uma espécie de ressonância da própria história da Revolução Francesa.
Uma segunda epígrafe do terceiro ensaio se localiza nos textos situacionistas desviados das publicações aos muros de Paris – “Ne Travaillez Jamais” –; e nos textos de ordem de maio de 68, pintados nas paredes do apartamento dos estudantes do filme A Chinesa, de Godard.
Nos remetemos às escritas urbanas que se levantam periodicamente nas manifestações, em resposta aos “rituais periódicos de destruição de corpos, que levam à repetição cíclica e exaustiva das mesmas violências” (Safatle, Bem Vindo ao Estado Suicidário); à “poesia cotidiana”, que Blanchot discerniu na “comunicação explosiva dos múltiplos comitês” das manifestações de rua (Blanchot, 44, 45).
O anacronismo da ideia de construir um novo monumento pra corrigir o monumento derrubado é discutido aqui. A escultura social de Joseph Beuys aparece como contra-monumento, antecipando a epifania das palavras, signos e imagens produzidas pelos cartazes, bandeiras e corpos dos manifestantes de maio de 1968 a junho de 2020.
Contrapomos o papel à pedra, apontando para a comunicação explosiva que destruiu mármores, granitos e bronzes e removeu monumentos dos pedestais. Destacamos Jenny Holzer, Barbara Kruger e Guerrilla Girls, que contra a solidez das matérias sólidas da escultura clássica, introduziram a ocupação do espaço urbano com a volatilidade do papel, da tinta e da projeção.
Lemos coletivamente o texto espacializado nas “interversões” do grupo 3Nós3, na crônica cotidiana do coletivo projetemos e nos atos públicos e digitais do Grupo de Ação, do #coleraalegria e do Aparelhamento. Depois que a Fumaça Antifascista diluiu as bandeiras no ar, em nuvem preta e vermelha, a poesia urbana do Slam reverbera o texto no espaço.
Como conteúdos relacionados ao terceiro ensaio, sugerimos a discussão do capítulo King Kong Girl, do livro Teoria King Kong, de Virginie Despentes, do filme Is The Museum a Battlefield?, de Hito Steyerl, e do texto Princípios da Sociedade Contrassexual, de Paul B. Preciado.
_AMBIÊNCIA E TERRITÓRIO
O ensaio derradeiro adota a linha da defesa do “teatro sem espectadores”, de Jacques Rancière, pensando os projetos expositivos periódicos que se assumem como lugares “de confrontação do público consigo mesmo ou como comunidade” (O Espectador Emancipado, 2017, 11). Ou, na definição de teatro por Brecht, como “assembleia ou cerimônia da comunidade”, onde “as pessoas do povo tomam consciência de sua situação e discutem seus interesses”.
A partir dos três “modelos pedagógicos de eficácia”, usados por Rancière para a reflexão acerca da identificação entre as formas da arte e da política – ou das formas de a arte fazer política –, discorremos sobre os casos em que a intenção estético-política se desloca do ato na rua para outros territórios e ambiências que incluem o museu e as instituições da arte.
Tucumán Arde (Rosário e Buenos Aires, ARG, 1968) foi um acontecimento definido como evento artístico itinerante, movimento, bienal ou projeto de contrainformação. Foi uma ação com um fim social definido, portanto, uma pedagogia da imediatez ética, um projeto coletivo que buscou articular práxis artística, política e comunicacional, com a proposta de criar um “circuito sobreinformacional”, para fazer frente à informação manipulada pelos meios de comunicação locais.
JAC MAC-USP (1967-1974) pode ser lida como uma “pedagogia de eficácia estética”, em um contexto de ditadura e repressão, em que o museu serviu de “refúgio seguro” para o artista que desejava transformar a arte e seu ambiente. Embora não tenham chegado perto da radicalidade do Tucumán Arde, tanto as JACs (quanto os Domingos de Criação no MAM RJ, 1971) são no Brasil iniciativas chave para pensarmos uma perspectiva alargada de museu, relacionando a arte com questões externas ao meio. Ambos exigiram uma nova postura do espectador, exigindo, sobretudo, ação.
DO IT foi um processo serial de exposições que inverteu a lógica da mostra centrada no processo do artista, na medida em que investigou, apropriando-se de parte da expressão do it yourself, as possibilidades de repetição, tradução, interpretação e circulação da obra dissociada da presença de seu autor. Utopia Station (2003) incorporou no âmbito institucional da 50ª Bienal de Veneza, a estética da gráfica ativista. Capital a Live Reading (2015), proposição do curador Okwui Enwezor, tentou localizar a 56ª Bienal de Veneza como um evento eminentemente politico, analisando a arte como trabalho e como investigação do trabalho e das transformações do trabalho.
Decolonize this Place (2016-em processo) exerce uma forma investigativa, com uma comunicação de guerrilha altamente sofisticada, operando uma linguagem artística da emergência. Pode ser pensado, mais que uma plataforma de jornalismo comunitário, ou de jornalismo cidadão, como um “jornalismo emancipado para um espectador-leitor participante” (Rancière). Ao modo da revista Potlach, do grupo Letrista, dirigida por Debord, se insere de modo disruptivo na lógica do capital artístico, como cerimônia de troca e redistribuição de bens e saberes.
Como conteúdos relacionados ao quarto ensaio, sugerimos a discussão do capítulo Um Mundo de Gente, do livro Há Mundo Por Vir? Ensaio Sobre os Medos e os Fins, de Eduardo Viveiros de Castro e Débora Danowski, do filme Xapiri, de Leandro Lima e Gisela Motta, Laymert Garcia dos Santos e Stella Senra e Albert Bruce, e do manifesto Movimento de Extinção Voluntária (VHEMT).
Dora Longo Bahia
Paula Alzugaray van Steen
A REVISTA LIVRE_
Disciplina que pretende fornecer uma perspectiva crítica das funções da revista de artista como obra e espaço colaborativo. Análise e discussões em torno de alguns projetos editoriais que funcionaram como testemunhos de seu tempo e do estado da arte, visando conduzir à tradução de poéticas artísticas em poéticas editoriais.
2021
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